17 de set. de 2012

15 de set. de 2012

no lar


minha casa têm barreiras
onde ninguém nunca entrará
é uma casa muito engraçada
nasceu assim
assim será

não tem gente
não tem bicho
não tem nada
nada
nada

(as pessoas que entraram lá
não entraram em seu próprio lugar
e do que descobriram
nada puderam levar)

13 de set. de 2012

Folha sobre folha – Carlos Felipe Moisés


Folha sobre folha 
verde sobre cinza sobre folha 
vento sobre folha 
lento pobre manto cobre tanta 
folha sobre folha.
O tempo se acumula, 
quando sobre nunca, 
até que o passado ressurja inteiro, 
coberto de folhas, 
memória liberta de si mesma.

12 de set. de 2012

infância quebrada


caminhava intrépido, ainda que um tanto desajeitado
em frente ao jardim parou

olhou
sentiu
ouviu

mudando os passos, tal como um ardiloso animal,
rodeou a pracinha por inteiro
o aroma do capim molhado penetrara em seu corpo,
doeu
resmungou umas duas ou três palavras
numa linguagem quase mineral
levantava as mãos, gesticulava,
como querendo que algo mudasse.

enquanto isso
um menininho que assistia tudo assustado
pensou: “ele deve ter perdido sua pipa”.

11 de set. de 2012

As três moças de Encruzilhada - Mário Quintana


As três moças de Encruzilhada Era uma vez três moças que moravam na florescente cidade de Encruzilhada. E, como eram três moças muito sérias, faltava-lhes o senso de humor e tomavam ao pé da letra o nome de sua cidade natal. E nunca sabiam onde ir, o que fazer, o que responder...
Para acabar com essa dúvida atroz, depois de infindáveis hesitações, resolveram o seguinte: a primeira sempre diria “sim”, a segunda que não e a terceira responderia com ar sonhador:
— Talvez...
Ora, um dia a Morte apareceu à primeira, e a moça disse que sim.
 A Morte a levou.
No outro dia a Morte apareceu à segunda e esta disse que não.
— Como ousas contrariar-me? — a Morte retrucou. — Eu sou a única Potestade do Céu e da Terra a quem ninguém pode dizer “não”.
E levou a moça. Enfim, no terceiro dia, a Morte apresentou-se à última das três — e a moça ficou olhando, olhando a cara da Morte e finalmente suspirou:
— Talvez...
E a Morte retirou-se, danada da vida.

(Da Preguiça como Método de Trabalho)

10 de set. de 2012

Aceitarás o amor como eu o encaro ?... - Mário de Andrade


Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.


Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

9 de set. de 2012

Dylan Thomas,,


"Tudo o que importa é o eterno movimento que há por trás da poesia, a vasta corrente subterrânea da dor, da loucura, da pretensão, da exaltação ou da ignorância humanas, por mais sublime que seja a intenção do poeta."

8 de set. de 2012

1X0



"Nesta vida  morrer não é difícil. O difícil  é a vida e seu ofício." (Vladímir Maiakósvki)

Não vamos ficar aqui discutindo essas formalidades
talvez se nós optarmos por uma breve resolução
seremos felizes.
Eu não tenho nada contra suas opiniões,
para dizer a verdade o que importa
é apenas o término de nossos negócios.
Seremos tudo o que precisarmos
nem mais,
nem menos,
somente assim
não perderemos a linha.
...
"- Tudo bem eu aceito suas ordens."

7 de set. de 2012

Sendo


Eu sou a metade do que pensava,

a outra metade

(há outra metade?)

é um detalhe geográfico,

mais um mero detalhe.

4 de set. de 2012

Reflexão n°.1 - Murilo Mendes



Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.

2 de set. de 2012

tenso - Fabrício Corsaletti


rolo de arame farpado
tora de peroba
de aroeira
todas as formigas
do couro da minha cabeça
meu queixo
minha mão
meu pau meu punho
meus tensos dentes

Amo aquela mulher
desde o momento
em que a vi mijando
descontrolada em pé

aquela mulher
era o puro amor